terça-feira, 9 de maio de 2017

#livroselições - EM BUSCA DE UM SENTIDO



O que a vida pode esperar de você?
Esta não é uma pergunta habitual.
Interessa-nos o contrário, o que a vida ainda tem para nos oferecer.
Dessa forma, avaliamos o nosso futuro, refletimos sobre o que estaria por vir e tomamos decisões. Como passarinhos no ninho, de bico arreganhado, aguardamos mamãe-pássaro caçar, digerir e depositar em nossa boca o alimento.
Inverta a pergunta, como feito acima, e perceba o peso dela. Nos colocamos como responsáveis por tornar a vida melhor, mais próspera, mais alegre, mais merecedora de ser vivida.
Essa é a mensagem que mais me tocou neste livro.
Viktor Frankl, autor da obra, era judeu, psicanalista e foi prisioneiro em campos de concentração, junto com toda a sua família. Apenas uma irmã e ele sobreviveram.
Depois da guerra, conseguiu retomar sua profissão e criou uma corrente chamada logoterapia que trabalha, não por acaso, com o efeito do sentido da vida no tratamento de pacientes.
O livro é dividido em duas partes. Primeiro vem os relatos sobre a rotina no campo. A segunda parte é dedicada às explicações sobre o que seria a logoterapia.
O cinema, o jornalismo, os livros de histórias, sobreviventes, testemunhas, oficiais nazistas e mais um monte de gente falou ao mundo sobre as atrocidades cometidas nos campos de concentração. Mas o relato de Frankl é único pela lucidez com que ele analisa, com a lente de psicologia, as próprias experiências e as dos companheiros e nos apresenta a principal regra para resistir em um campo de concentração: ter pelo que viver.
Mas veja, mesmo guardando para si a esperança e alimentando isso diuturnamente, a morte poderia chegar a qualquer momento. Então, Frankl se refere ao modo como se vive: um homem consciente em seus pensamentos e impulsos, que faz o melhor em meio ao terror, ou apenas um animal reagindo instintivamente e aguardando o fim.
Num certo dia, chorando de dor, congelando, faminto, pegou-se com pensamentos paranóicos sobre tudo o que poderia deixar sua vida ainda pior: ser enviado para algum campo que tivesse câmara de gás, não ter o que comer algo no dia seguinte, ser colocado em algum grupo de trabalho cujos sentinelas eram cruéis, adoecer e não poder trabalhar (isso aumentava enormemente as chances de ser executado),  etc.
Cansado da angústia que aqueles pensamentos lhe causavam, começou a refletir sobre as lições escondidas naquela situação e, de repente, se viu num salão grande palestrando sobre a psicologia nos campos de concentração. Isso mudou seu humor e lhe deu energia para mais um dia. Ah! E virou realidade muitos anos depois...
“Quem não consegue mais acreditar no futuro - no seu futuro - está perdido no campo de concentração. Com o futuro, tal pessoa perde o apoio espiritual, deixa-se cair interiormente e decai física e psiquicamente.”
Uma pessoa que teve a vivência de Frankl não poderia pensar diferente. Ele viu e sentiu o desespero na própria pele maltratada, e se manteve de pé por acreditar que havia algo além da barbaridade rotineira. Mas ele sabe que enxergar lições em meio ao caos não é fácil. Muitos companheiros seus sucumbiram ao desespero. Trata-se, então, de uma escolha pessoal.
“Sempre e em toda parte a pessoa está colocada diante da decisão de transformar a sua situação de mero sofrimento numa produção interior de valores.”
Em meio a todo o caos, Frankl percebeu que precisava fazer o máximo possível. Em alguns momentos, ouviu o desabafo dos companheiros com atenção, em outros comeu lentamente a pequena ração de pão para manter-se forte; muitas vezes, apenas resistiu e acalmou o coração. E entendeu que a vida nos pede as mais diversas atitudes, desde o silêncio a vigorosas ações. O importante, para ele, era sempre atender ao que ela pedia. O que a vida podia esperar dele.
“Não perguntamos mais pelo sentido da vida, mas nos experimentamos a nós mesmos como os indagados, como aqueles aos quais a vida dirige perguntas diariamente e a cada hora - perguntas que precisamos responder, dando a resposta adequada não através de elucubrações ou discursos, mas apenas através da ação, através da conduta correta. Em última análise,  viver não significa outra coisa que arcar com a responsabilidade de responder adequadamente às perguntas da vida pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida a cada indivíduo, pelo cumprimento da exigência do momento.”

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