terça-feira, 5 de setembro de 2023

A vida depois do "felizes para sempre"

 

Você já ouviu falar na jornada do herói? É aquele arco narrativo clássico nas histórias de personagens que, primeiro, estão próximos ao fundo do poço existencial, depois sofrem um solavanco tão intenso que são obrigados a sair de onde estão, por mal, geralmente. Em seguida vivem loucas aventuras (leia essa frase na voz do narrador da Sessão da Tarde) e se tornam o inesperado vencedor da historia, geralmente provocando reflexões nos antigos maiorais que o discriminaram.

Posso afirmar que fiz isso há pouco tempo. Entre gravidez solo, mestrado tão sonhado, diversas formações holísticas e uma vida com o ritmo que eu sempre desejei, fui do ponto "a" ao "b", me tornando o meu exemplo pessoal de que essa jornada acontece sim, e é deliciosa. Sobrevivi aos desafios e retornei feliz e serelepe dessa gincana que a vida me apresentou.

Mas, e depois?

Depois disso tudo, vivi o que não se conta nos "contos de fada", o que vem depois do “felizes para sempre”.

Arranjei um emprego, cuidei da rotina da minha casa, da minha filha, a minha própria. Me ocupei em pagar boletos, em consertar coisas quebradas, em manter a dispensa decentemente cheia. Tive altos e baixos emocionais como antes, e realizei novas travessias transformadores, embora menores e menos intensas do que a que vivi anteriormente.

Percebi que o ciclo de transformação, ou a jornada do herói, se apresenta diuturnamente na nossa vida. Algumas mais radicais, outras, menores, como pequenas pontes que precisam ser erguidas para atravessar veios d’água no caminho, embora despertem emoções intensas, como angustia, medo, aceitação e orgulho.

E cá estou escrevendo sobre isso, como um dia escreve sobre dores imensas. Naquela época, eu implorava por respostas. Hoje, ainda tenho dúvidas, mas me sinto mais preparada para encontrar as respostas.

Minha busca continua sendo por quem sou agora, no momento presente. O desejo de chegar ao próximo nível é o mesmo, talvez, às vezes, com menos dores e não tão longe do degrau que preciso subir. 

É mais fácil se encontrar quando não se está tão perdida, tão distante dos seus próprios limites, construídos através de autoconhecimento e da coragem de virar as costas para o que não faz mais sentido.

E depois dos desafios, retorno para contar o que aprendi. No meu caso, está acontecendo neste momento, ao postar novamente nesse espaço virtual. Aqui, compartilhei meus aprendizados, e vai ser aqui, também, que pretendo contar sobre essa nova jornada que iniciei assim que completei a anterior. E o primeiro ensinamento é esse, que a jornada do herói é, na verdade, uma história sem fim.

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Um post para te pedir que não desista da sua autocura.

Um amigo comentou que recebeu alta da sua psicóloga. Achei isso bem curioso, porque faço terapia há mais de 10 anos e nunca fui convidada a seguir meu rumo por ninguém. Há algum problema comigo? Ou com ele?

Durante esse tempo todo, estive lá e cá com diversas técnicas, ferramentas, leituras, terapias, vivências e mais um monte de coisas que iam se encaixando, como um quebra cabeça de peças desconhecidas, uma miríade de respostas que eu conhecia compreender e, por isso, me traziam paz.

Às vezes, eu emperrava numa questão, uma dor que não passava de jeito nenhum, mesmo revisitando ela de diferentes maneiras. Foi assim que conheci a astrologia, o tarô, o Thetahealing, Barras de Access, Constelação Familiar, ou leituras até então desconhecidas, pra entender a danada, jogar luz sobre ela.

Aí, munida de compreensão, eu voltava pra minha terapia renovada, disposta a encarar os outros monstrinhos do meu infinito particular que iam surgir.

O processo de autoconhecimento e de cura das nossas feridas emocionais pede isso, empenho. Não é uma ou outra coisa que vai resolver, mas isso tudo, em momentos diferentes, do jeito que for preciso.

Casa, não nego. Mas, ao mesmo tempo, a gente sente que vai pra outro nível, reconhece outras potencialidades nossas, percebe que está pronta para voos maiores.

Então, cara-pálida, te digo: não desista da sua autocura, do seu processo pessoal, da sua expansão. Vai, continua, conhece outras coisas, se abre! É tão bom sentir que está sendo tudo o que pode ser, e além!

 


segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

 


Como se eu estivesse empunhando uma faquinha de passar manteiga para matar o leão do dia, decidi começar a fazer sessões com os amigos logo depois de concluir o DNA Avançado, algumas poucas semanas atrás. Falei isso para os mais chegados, e o interesse era claro: sejam cobaias, por favor, mas sejam legais comigo!

Eu precisava pôr em prática esse mundaréu de coisas que tô aprendendo, mas havia medo disso saindo até pelo meu suor. É muita responsabilidade acessar os desafios das pessoas, ainda mais com a função de ajuda-las a se curarem, mas eu precisava praticar e, principalmente, aprender a confiar. Então, me joguei.

Dava um post cada atendimento, que já ultrapassaram duas mãos em quantidade, mas preciso compartilhar uma coisa incrível que perpassou todas as experiências. O Theta tem ferramentas lindas, downloads incríveis, procedimentos capazes de curas imediatas e impressionantes, mas senti a necessidade de adotar diversas medicinas que eu sempre usei comigo.

A noção da falta de perdão ali e de como o hooponopono ajudaria, ou que era essencial chorar até esvaziar o peito, ou ainda dar-se um tempo e meditar para que o universo mandasse as respostas certas vieram na minha cabeça de forma muito clara, pois eu já estive no lugar daquelas pessoas, sabia exatamente como se sentiam e, por isso mesmo, como se curarem.

O Thetahealing está me permitindo ligar os pontos das minhas dores e das curas que tive, das medicinas que aprendi e, acima de tudo, ter a chance de botar tudo isso a serviço de quem precisar.


sábado, 5 de dezembro de 2020

SOBRE SER VÍTIMA

 Ei, você, que tenta ser forte, que só quer seguir em frete, que não quer ser vista no chão depois de puxarem seu tapete. Tenha calma, se sente e chore. Você tem esse direito.

Você não tem que ir em frente loucamente para ganhar distância da sua ferida. Essa distância, que é psicológica, vai fazer a dor se esconder e te assombrar nas noites escuras. Então, deixe ela vir à superfície, admita que ela faz parte da tua trajetória, honre a energia que você dispende para lidar com tudo e siga se honrado.

Não tô falando de sentar no trono da vítima e por lá ficar eternamente, apontando o dedo para seus algozes e mandando cortar as suas cabeças; mas sobre chorar quantas vezes doer, lamentar a dor de ter sido violada de qualquer forma, dar-se colo, apoiar-se em si mesma e em quem merecer tua confiança e seguir. Lamber as próprias feridas é um necessário, acredite.

É que às vezes parece perda de tempo, que pouco importa ao mundo as cicatrizes profundas que fazem na gente sem dó, que o mundo não vai parar para ouvir nossos soluços de mágoa. E, pasme, não vai mesmo. Ele vai seguir, mas, como você está nele, um dia depois do outro, você vai se ver em movimento também.

Mas até lá, se abrace, grite a plenos pulmões que aquilo foi uma puta injustiça, não aceite mais nada que te fira, se guarde numa caixinha até sentir as forças voltarem. Dê se o tempo que precisar, procure as medicinas que possam te curar, se poupe de gente que não se importa até se sentir forte de novo.

Não temos controle sobre tudo o que nos acontecesse, mas podemos fazer o melhor possível com o que sobra da gente depois do vendaval.

sábado, 28 de novembro de 2020

SOBRE CONSTRUIR IMPÉRIOS.

Eu já solavanquei muitas vezes no ritmo do mar revolto alheio. Embora convicta sobre o amor sereno que despertava no meu peito, fui jogada de um lado para o outro, me debatendo em inconstâncias, descompromisso, deslealdade, na completa falta de habilidade para amar.

Parecia impossível me livrar daqueles sofrimentos. Me perguntei muitas vezes que outra opção eu teria além da dor da partida ou da angústia em permanecer, embora soubesse claramente que sob toda aquela tempestade, havia muito calor, sorrisos, companheirismo, uma rotina normal entre duas pessoas que transbordavam alguma espécie de amor.

Ainda que despedaçada, escolhi sobreviver e partir, deixando para trás os restos dos sonhos construídos e alimentados juntos. Uma andorinha só não faz verão, e nem fazia o menor sentido continuar ali.

Agora, recuperada, de pé, firme como um farol que revela caminhos a longas distâncias, eu não consigo mais parar. Vou em frente, conquisto novos palmos de terra, ergo meu império e contemplo toda a vastidão de vida. Existem partes minhas por todo o caminho, onde sangrei, chorei, perdoei, até encontrar a paz.

Cada pedaço desse império que eu vejo no espelho, tijolo por tijolo, fui eu mesma que assentei. Um quebra cabeça de sonhos, ações, decisões e mãos abertas para aquilo que não era meu de verdade. As peças se encaixaram uma na outra e formaram algo novo, que eu jamais tinha visto, mas sentia já existir nos meus mais doces devaneios.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O desafio de ser canal

Eu comecei a escrever por necessidade. Tudo o que trazia para esse mundo era o que ecoava alto no meu coração. Para dores, angústias, frustrações, medos e demais feridas na alma, a medicina possível era a escrita, terapêutica mais que literária.

Nunca gostei de criar personagens, pois o que eu tinha a dizer precisava ser em primeira pessoa. Nenhuma outra voz, com uma bagagem imaginária, ainda que autobiográfica, seria capaz da sinceridade que eu desejava expressar.

Agora que os cortes se fecharam e as cicatrizes se transformaram em vãos por onde minha essência transborda, eu me desafio a ser canal dos verbos que habitam as profundezas de outras almas.

Para isso, eu preciso crescer. Tanto e tão alto que nem sei se sou capaz. Como falar o que a garganta encerra? Que autoridade eu tenho para traduzir em palavras aquilo que está invisível aos olhos de outros, por que insuportável?

Não me pretendo tradutora, porta voz oficial da mensagem alheia. Contudo, sou tão humana quanto todos, sangro e choro, ainda que de formas e intensidades diferentes. Eu enxergo a dor do outro porque ela está em mim também. Somos todos feitos da mesma matéria prima, ainda que o espectro de existências possíveis seja maior do que chego a imaginar.

Empatia. Conhece essa palavra? Existe uma definição muito prática no dicionário, a faculdade de compreender emocionalmente um objeto, mas percebo de outra forma. Para mim, se trata da disposição de escavar em si até encontrar o que rasga o peito alheio, de reconhecer aquilo que habita o coração de alguém para, então, permitir a verdadeira conexão, essências conversando a linguagem do acolhimento.

Eu me abro, portanto, para trazer ao mundo aquilo que emerge de mim quando compartilho da verdade do outro. A minha leitura, o meu gradiente de sentimentos, a minha forma de enxergar as experiências serão a tinta com a qual pintarei a paisagem, que não é minha numa primeira mirada, mas me é familiar, porque humanos somos.

 

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

COMO OUVIR O CORAÇÃO


Faz um tempo que me voltei para o meu espiritual, o que não significa, de forma alguma, que resolvi meditar numa montanha. Tenho apenas trazido para a minha vida conhecimentos que sinto serem verdadeiro, mesmo que bastante diferente do que me ensinaram a vida inteira.

Também não são práticas elaboradas, mas pontos de vista e comportamentos simples, que me trazem uma sensação de bem estar imediato e, no longo prazo, se mostram completamente adequados, o que sempre me surpreende.

Para isso, precisei desenvolver a capacidade de ouvir o que meu coração diz sobre as coisas. Se vem um quentinho no peito, é por ali. Causou sobressaltos, é cilada, Bino! Tudo muito didático, sem grandes elucubrações.

Eu não contava, porém, com a dificuldade em saber exatamente o que meu coração quer. Isso é bem esquisito, mas tenho ficado em dúvida sobre as mensagens por detrás das sensações, o que me leva a pensar que passei tempo demais desconectada dele.

Não estou falando dos impulsos para viver isso ou aquilo, das vontades por alguma coisa, dos rompantes emocionais super confusos. Para esses eu dei bastante atenção e ouço claramente o que têm a dizer, porque gritam muito alto e me deixam atarantada, além do arrependimento tardio que provocam.

Agora que estou tentando ouvir o que meu coração diz da forma correta, calmamente, respirações longas para oxigenar a mente, buscando perceber o que meu corpo inteiro indica, vejo que levei gato por lebre muitas vezes.

Não era ele que eu ouvia, mas a minha própria vontade, a da Malu, essa pessoa que vos fala. O ego, posso chamar assim também. Uma instância minha que estava bem conectada aos anseios da vida social, do mundo material, e de tudo o que está diante dos meus olhos.

Porém, essa busca pelo espiritual me fez ouvir uma vozinha muito suave, que não tem a intensão de se sobrepor a nenhuma outra, que dizia o contrário do que eu queria ouvir, para quem eu estava surda. Ela nunca se calou, mas eu não sabia ouvi-la.

Essa voz tem me dito cada coisa assombrosa, e dispara no meu coração sensações tão acolhedoras, conhecidas minhas, das quais eu tinha me afastado, pois me acostumei a ouvir quem gritava mais alto e fazia confusão.

Perceber a essência falando exige mudar de sintonia. Tem mais a ver com sentir, e não gritar; verdades minhas, e não comparações; alegria, e não culpa. Por isso, estou me acostumando com essa comunicação não-violenta, bem diferente da angústia que as outras vozes, aquelas que gritavam comigo e me culpavam por ainda não ter agido, transmitiam.

Os silêncios diários têm deixado meus ouvidos mais preparados para esse contato, ao mesmo tempo em que treino a confiança para reconhecer a serenidade que cada resposta me provoca. Assim, vou aprendendo a linguagem do meu coração, que é manso e não tem pressa de se sobrepor aos demais ruídos, porque sabe que uma hora eu vou voltar para ele.