sábado, 5 de dezembro de 2020

SOBRE SER VÍTIMA

 Ei, você, que tenta ser forte, que só quer seguir em frete, que não quer ser vista no chão depois de puxarem seu tapete. Tenha calma, se sente e chore. Você tem esse direito.

Você não tem que ir em frente loucamente para ganhar distância da sua ferida. Essa distância, que é psicológica, vai fazer a dor se esconder e te assombrar nas noites escuras. Então, deixe ela vir à superfície, admita que ela faz parte da tua trajetória, honre a energia que você dispende para lidar com tudo e siga se honrado.

Não tô falando de sentar no trono da vítima e por lá ficar eternamente, apontando o dedo para seus algozes e mandando cortar as suas cabeças; mas sobre chorar quantas vezes doer, lamentar a dor de ter sido violada de qualquer forma, dar-se colo, apoiar-se em si mesma e em quem merecer tua confiança e seguir. Lamber as próprias feridas é um necessário, acredite.

É que às vezes parece perda de tempo, que pouco importa ao mundo as cicatrizes profundas que fazem na gente sem dó, que o mundo não vai parar para ouvir nossos soluços de mágoa. E, pasme, não vai mesmo. Ele vai seguir, mas, como você está nele, um dia depois do outro, você vai se ver em movimento também.

Mas até lá, se abrace, grite a plenos pulmões que aquilo foi uma puta injustiça, não aceite mais nada que te fira, se guarde numa caixinha até sentir as forças voltarem. Dê se o tempo que precisar, procure as medicinas que possam te curar, se poupe de gente que não se importa até se sentir forte de novo.

Não temos controle sobre tudo o que nos acontecesse, mas podemos fazer o melhor possível com o que sobra da gente depois do vendaval.

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