Ei, você, que tenta ser forte, que só quer seguir em frete, que não quer ser vista no chão depois de puxarem seu tapete. Tenha calma, se sente e chore. Você tem esse direito.
Você não tem que ir em frente loucamente para ganhar
distância da sua ferida. Essa distância, que é psicológica, vai fazer a dor se
esconder e te assombrar nas noites escuras. Então, deixe ela vir à superfície,
admita que ela faz parte da tua trajetória, honre a energia que você dispende
para lidar com tudo e siga se honrado.
Não tô falando de sentar no trono da vítima e por lá ficar
eternamente, apontando o dedo para seus algozes e mandando cortar as suas
cabeças; mas sobre chorar quantas vezes doer, lamentar a dor de ter sido
violada de qualquer forma, dar-se colo, apoiar-se em si mesma e em quem merecer
tua confiança e seguir. Lamber as próprias feridas é um necessário, acredite.
É que às vezes parece perda de tempo, que pouco importa ao
mundo as cicatrizes profundas que fazem na gente sem dó, que o mundo não vai
parar para ouvir nossos soluços de mágoa. E, pasme, não vai mesmo. Ele vai
seguir, mas, como você está nele, um dia depois do outro, você vai se ver em
movimento também.
Mas até lá, se abrace, grite a plenos pulmões que aquilo foi
uma puta injustiça, não aceite mais nada que te fira, se guarde numa caixinha
até sentir as forças voltarem. Dê se o tempo que precisar, procure as medicinas
que possam te curar, se poupe de gente que não se importa até se sentir forte
de novo.
Não temos controle sobre tudo o que nos acontecesse, mas
podemos fazer o melhor possível com o que sobra da gente depois do vendaval.
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