Eu comecei a escrever por necessidade. Tudo o que trazia para
esse mundo era o que ecoava alto no meu coração. Para dores, angústias,
frustrações, medos e demais feridas na alma, a medicina possível era a escrita,
terapêutica mais que literária.
Nunca gostei de criar personagens, pois o que eu tinha a
dizer precisava ser em primeira pessoa. Nenhuma outra voz, com uma bagagem
imaginária, ainda que autobiográfica, seria capaz da sinceridade que eu
desejava expressar.
Agora que os cortes se fecharam e as cicatrizes se
transformaram em vãos por onde minha essência transborda, eu me desafio a ser
canal dos verbos que habitam as profundezas de outras almas.
Para isso, eu preciso crescer. Tanto e tão alto que nem sei
se sou capaz. Como falar o que a garganta encerra? Que autoridade eu tenho para
traduzir em palavras aquilo que está invisível aos olhos de outros, por que
insuportável?
Não me pretendo tradutora, porta voz oficial da mensagem
alheia. Contudo, sou tão humana quanto todos, sangro e choro, ainda que de
formas e intensidades diferentes. Eu enxergo a dor do outro porque ela está em
mim também. Somos todos feitos da mesma matéria prima, ainda que o espectro de
existências possíveis seja maior do que chego a imaginar.
Empatia. Conhece essa palavra? Existe uma definição muito
prática no dicionário, a faculdade de compreender emocionalmente um objeto, mas
percebo de outra forma. Para mim, se trata da disposição de escavar em si até
encontrar o que rasga o peito alheio, de reconhecer aquilo que habita o coração
de alguém para, então, permitir a verdadeira conexão, essências conversando a linguagem
do acolhimento.
Eu me abro, portanto, para trazer ao mundo aquilo que emerge
de mim quando compartilho da verdade do outro. A minha leitura, o meu gradiente
de sentimentos, a minha forma de enxergar as experiências serão a tinta com a
qual pintarei a paisagem, que não é minha numa primeira mirada, mas me é
familiar, porque humanos somos.
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