Faz um tempo que me voltei para o meu espiritual, o que não
significa, de forma alguma, que resolvi meditar numa montanha. Tenho apenas trazido
para a minha vida conhecimentos que sinto serem verdadeiro, mesmo que bastante
diferente do que me ensinaram a vida inteira.
Também não são práticas elaboradas, mas pontos de vista e
comportamentos simples, que me trazem uma sensação de bem estar imediato e, no
longo prazo, se mostram completamente adequados, o que sempre me surpreende.
Para isso, precisei desenvolver a capacidade de ouvir o que
meu coração diz sobre as coisas. Se vem um quentinho no peito, é por ali. Causou
sobressaltos, é cilada, Bino! Tudo muito didático, sem grandes elucubrações.
Eu não contava, porém, com a dificuldade em saber exatamente
o que meu coração quer. Isso é bem esquisito, mas tenho ficado em dúvida sobre
as mensagens por detrás das sensações, o que me leva a pensar que passei tempo
demais desconectada dele.
Não estou falando dos impulsos para viver isso ou aquilo, das
vontades por alguma coisa, dos rompantes emocionais super confusos. Para esses
eu dei bastante atenção e ouço claramente o que têm a dizer, porque gritam
muito alto e me deixam atarantada, além do arrependimento tardio que provocam.
Agora que estou tentando ouvir o que meu coração diz da
forma correta, calmamente, respirações longas para oxigenar a mente, buscando
perceber o que meu corpo inteiro indica, vejo que levei gato por lebre muitas
vezes.
Não era ele que eu ouvia, mas a minha própria vontade, a da
Malu, essa pessoa que vos fala. O ego, posso chamar assim também. Uma instância
minha que estava bem conectada aos anseios da vida social, do mundo material, e
de tudo o que está diante dos meus olhos.
Porém, essa busca pelo espiritual me fez ouvir uma vozinha
muito suave, que não tem a intensão de se sobrepor a nenhuma outra, que dizia o
contrário do que eu queria ouvir, para quem eu estava surda. Ela nunca se
calou, mas eu não sabia ouvi-la.
Essa voz tem me dito cada coisa assombrosa, e dispara no meu
coração sensações tão acolhedoras, conhecidas minhas, das quais eu tinha me
afastado, pois me acostumei a ouvir quem gritava mais alto e fazia confusão.
Perceber a essência falando exige mudar de sintonia. Tem
mais a ver com sentir, e não gritar; verdades minhas, e não comparações; alegria,
e não culpa. Por isso, estou me acostumando com essa comunicação não-violenta,
bem diferente da angústia que as outras vozes, aquelas que gritavam comigo e me
culpavam por ainda não ter agido, transmitiam.
Os silêncios diários têm deixado meus ouvidos mais
preparados para esse contato, ao mesmo tempo em que treino a confiança para reconhecer
a serenidade que cada resposta me provoca. Assim, vou aprendendo a linguagem do
meu coração, que é manso e não tem pressa de se sobrepor aos demais ruídos,
porque sabe que uma hora eu vou voltar para ele.
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