quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Praticando a crônica... Tarô


Os algoritmos me levaram até o vídeo de uma taróloga especialista em prever os futuros caminhos de cada signo e dali não tive qualquer chance de fuga. Fiquei em pânico, obsessiva e arrependida assim que a primeira propaganda interrompeu os minutos iniciais do audiovisual. Antes de ouvir o muito obrigado da moça, busquei segundas, terceiras, quartas e infinitas opiniões de outros tarólogos, astrólogos, leitores de pó de café, jogadores de runas e adeptos de técnicas que não sei ainda explicar. Todos foram lançados no meu feed, um após o outro, e não consegui me recusar a ver o que tinham a dizer.

A previsão foi que alguém do meu passado viria ao futuro acertar contas e encerrar histórias. Isso me deixou bem preocupada porque não gosto sinto saudades do que me aconteceu preferiria que por lá ficassem. Por arrependimentos? Sim. Por que o futuro está melhor? Também. Não sou saudosa e nem estou esperando por trocos. Prefiro que fiquem com tudo, tomem seu rumo e desapareçam da minha vida. Pagaria mesmo por isso.

À época a inflação era diferente, a Selic estava bem mais valorizada, a gasolina, barata e o dólar não incomodava muita gente. Eu tinha menos auto-estima, mais massa magra, muitas dívidas e nenhum pudor. Para que, então, ascender das catacumbas alguém que não vai me reconhecer com o novo corte de cabelo e nem vai compreender minha mania de só responder mensagem à noite, quando não há mais nada por fazer, nenhum sonho a realizar?

Melhor ficar por lá com as doces lembranças das noites de sexo, o sarcasmo das brigas diárias e a dúvida se eu o mandaria à merda ou pediria que colocasse, de maneira apressada, suas palavras em seu próprio orifício circular corrugado.

A expectativa me provoca gases. A úlcera gritou comigo, em forma de refluxo. Melhor seria nunca ter sabido, nem cogitado o encontro, muito menos ter trazido à lembrança esse ser humano. Continuo assistindo a outros tarólogos e adivinhos. É que a pessoa ainda não reapareceu me pedindo perdão e em casamento, como alguns disseram. Também não veio se arrastando implorando por uma segunda chance, assim como descreveu os advinhos do pó de café. Ainda tem alguns perfis e, só por precaução, vou checar seus dados. Um deles haverá de ser exato. Quem sabe no próximo eclipse.


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