Eu
já solavanquei muitas vezes no ritmo do mar revolto alheio. Embora convicta
sobre o amor sereno que despertava no meu peito, fui jogada de um lado para o
outro, me debatendo em inconstâncias, descompromisso, deslealdade, na completa
falta de habilidade para amar.
Parecia
impossível me livrar daqueles sofrimentos. Me perguntei muitas vezes que outra
opção eu teria além da dor da partida ou da angústia em permanecer, embora
soubesse claramente que sob toda aquela tempestade, havia muito calor, sorrisos,
companheirismo, uma rotina normal entre duas pessoas que transbordavam alguma
espécie de amor.
Ainda
que despedaçada, escolhi sobreviver e partir, deixando para trás os restos dos
sonhos construídos e alimentados juntos. Uma andorinha só não faz verão, e nem
fazia o menor sentido continuar ali.
Agora,
recuperada, de pé, firme como um farol que revela caminhos a longas distâncias,
eu não consigo mais parar. Vou em frente, conquisto novos palmos de terra, ergo
meu império e contemplo toda a vastidão de vida. Existem partes minhas por todo
o caminho, onde sangrei, chorei, perdoei, até encontrar a paz.
Cada pedaço desse império que eu vejo no espelho, tijolo por tijolo, fui eu mesma que assentei. Um quebra cabeça de sonhos, ações, decisões e mãos abertas para aquilo que não era meu de verdade. As peças se encaixaram uma na outra e formaram algo novo, que eu jamais tinha visto, mas sentia já existir nos meus mais doces devaneios.