É uma paixão desde a mais tenra idade, como diriam meus
ídolos de escrita mais formal.
Não saberia dizer quais mais amei. Mas há alguns que
certamente impactaram na minha visão de mundo.
Tem um, em especial, que mexeu com minhas convicções e veio
num momento muito importante, de redescoberta.
Mulheres que correm com os lobos.
Esse título tem um sentido interessante, mas realmente não
diz tudo... E eu também não saberia dizer qual título transmitiria todo o
sentido que esse livro desperta em SUAS LEITORAS. Porque ele é um livro para
mulheres, mas é nada mulherzinha, ok? Impressionante também a conexão que ele
desperta entre elas, mas vou falar sobre isso um pouco na frente...
A autora, Clarissa Pinkola Estés, é uma psicanalista
junguiana. Americana, mas de ascendência mexicana.
Descobri que ela também é poetisa e não me surpreendi, pois
sua escrita tem um lirismo muito legal...
No livro, ela apresenta mitos e fábulas, passadas de geração
em geração em forma de cantorias e histórias orais, sobre personagens
surpreendidos pelas armadilhas do destino, que enfrentaram suas agruras e nos
deixaram grandes lições, vencendo os desafios ou mesmo sucumbindo a eles.
São narrativas sobre a mulher selvagem, a essência feminina
que habita todas nós e, como sábias mães, vai nos mostrando o nosso caminho ao
longo da vida, e nos chamando de volta quando nos distanciamos.
É sobre isso, o resgate da nossa essência, a capacidade de
ouvir o chamado da mulher selvagem e a coragem para caminhar de volta a ela,
que trata o livro...
Algumas protagonistas dessas histórias conseguiram superar
seus medos e renasceram com eles. Outras entraram em caminhos sem volta,
motivadas por um amor falso, ou por uma imagem ingênua do mundo.
Depois de apresentar as histórias, Clarissa explora as
mensagens implícitas nessas fábulas. Assim, olhando detalhe a detalhe, a autora
nos apresenta o caminho que nós mesmas percorremos para permitir aflorar a
nossa essência “selvagem”. Afinal, todo esse desencontro é um processo interno a cada mulher. Um morrer renascer constante que, se nos distancia em algum momento da nossa mulher selvagem, também nos traz de volta renovadas, fortalecidas.
Comecei a ler o livro num momento em que percebi ter feito
algumas escolhas importantes, profissionais na maioria, baseadas só em questões
racionais e me vi “pagando por isso”. Ou seja, estava meio frustrada...
Durante a leitura fui me encontrando em cada relato de
abandono da esperança, castração da vontade para seguir padrões e expectativas
alheios, decepção com aqueles em quem se confiava. Ora a moça ingênua que é
levada ao encontro do perigo por um amor mentiroso ou por familiares que
deveriam protegê-la. Ora um ser livre que é capturado por pessoas que admiram
sua essência e, movidos por um amor egoísta (se é que podemos chamar de amor),
encarceram-na. Ora sofrendo por sentir-se sozinha no mundo quando já havia
encontrado a sua turma: o grupo que ela mais admirava e jamais pensou que
poderia pertencer a ele
Ao mesmo tempo, sentia aquecer o coração com as análises da
autora, pois conseguia enxergar um caminho de volta, uma forma de reencontrar
essa essência “selvagem”. Sentia como se cada texto falasse ao meu coração, ou
melhor, à minha essência. E, assim, pude ouvir a mulher selvagem em mim...
Interessante é que durante a leitura do livro, me deparei diversas vezes com... o livro! Pessoas vinham falar dele, lia algum comentário de alguém no Facebook, e se comentava sobre ele com alguma amiga, ela já tinha ouvido falar e desejava ler, ou estava lendo! Parecia um magnetismo, uma reunião de mulheres na mesma busca. Bem esotérico esse comentário, mas é verdade...
Os capítulos são independentes, não precisa seguir a sequência. Então, vira e mexe, eu busco novamente os relatos pra me entender, me resgatar. Pois a Clarissa sempre diz, a mulher selvagem enfrenta uma constante vida-morte-vida, para renascer mais forte...