segunda-feira, 30 de abril de 2018

Não orna mais.


Perceber que não nos importamos mais com o que já alegrou a nossa alma é melancólico. Logo em seguida vem a leveza decorrente da real indiferença, e isso se soma a uma sensação de alegria. Oba, diz o ego. Mas antes, o desconforto. É estranho admitir que algo que já foi muito valioso já não orna mais.

Há sempre uma grande batalha quando algo vai partir da nossa vida. Apegados, tentamos segurar o que não deveria mais estar na nossa vida e que, muitas vezes, já partiu. Lutamos pela sombra do que foi porque é doloroso perder, e vivemos um luto por isso.

Mas o tempo, sábio como só ele, ignora nossos apelos e segue inabalável, como se nada tivesse acontecido. Lamentamos, tentamos ressuscitar e nos angustiamos pelo que já não é. E, olhando bem, fica nítido que nosso lamento não é pela ausência de alguém, ou de alguma coisa, mas apenas a saudade que sentimos.

Somos movidos a sentimentos. O que gostamos, do que não gostamos. Isso nos define. Encontramos alvos das emoções a eles dedicamos tempo e expectativas. Observe. É por isso que nos enlutamos, por esse sentir que é obrigado a despedir-se de um objeto de desejo e sente a sua inutilidade momentânea.

De repente, algo que foi estrutural já não faz mais parte da gente. E o que se faz com o espaço vazio que fica?

Não o preencha.

Comece assim.

E prepare-se para repensar sua maneira de existir.

Só uma nova forma de se relacionar, de agir, de existir, pode ser a resposta correta para o fim de um sentimento. Se apenas preenchermos o espaço vazio, continuamos na mesma e isso é muito confortável.

O melhor é aproveitar a oportunidade para mudar a forma de estar no mundo. É bem mais difícil. Exige esforço. Algum tempo. Mais do que geralmente estamos dispostos a empregar. Mas a eficácia é maior.

E nesse time to think, podemos perceber que, talvez, quem sabe, o problema não tenha sido aquela pessoa que foi embora, mas a que ficou. Eu. Nós. A nossa forma de estar no mundo. Sai alguém, mas outras chegam e os problemas persistem.

E aí surge uma ironia.

Ao decidir afastar da sua vida quem te faz mal, talvez seja relevante incluir-se nesta lista.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Dever. Não poder.


É um erro esperar que você decida o que fazer da sua vida quando já sei que isso não me incluirá.

O melhor seria desistir de vez e partir, mas não sei pra onde.

Uma relação que me tira o norte. Sofro.

Minha vida não anda lá muito bem. Fato.

Você é mais um problema insolúvel que me convida ao conformismo.

Como inimigos invencíveis que nos fazem cogitar juntar-se ao seu bando para que a guerra finde.

Porém, algo dentro de mim me importuna e não aceita menos do que mereço.

Um projeto de amor próprio que resiste, mesmo soterrado em covardia e medo.

É uma voz muito suave, mas chacoalha tudo como o rugido da mais feroz das bestas.

Eu deveria. É a frase que mais repito mentalmente.

Eu não consigo. É a verdade mais dura de admitir.