Perceber que não nos importamos mais com o que já alegrou a
nossa alma é melancólico. Logo em seguida vem a leveza decorrente da real
indiferença, e isso se soma a uma sensação de alegria. Oba, diz o ego. Mas
antes, o desconforto. É estranho admitir que algo que já foi muito valioso já
não orna mais.
Há sempre uma grande batalha quando algo vai partir da nossa
vida. Apegados, tentamos segurar o que não deveria mais estar na nossa vida e
que, muitas vezes, já partiu. Lutamos pela sombra do que foi porque é doloroso
perder, e vivemos um luto por isso.
Mas o tempo, sábio como só ele, ignora nossos apelos e segue
inabalável, como se nada tivesse acontecido. Lamentamos, tentamos ressuscitar e
nos angustiamos pelo que já não é. E, olhando bem, fica nítido que nosso
lamento não é pela ausência de alguém, ou de alguma coisa, mas apenas a saudade
que sentimos.
Somos movidos a sentimentos. O que gostamos, do que não
gostamos. Isso nos define. Encontramos alvos das emoções a eles dedicamos tempo
e expectativas. Observe. É por isso que nos enlutamos, por esse sentir que é
obrigado a despedir-se de um objeto de desejo e sente a sua inutilidade
momentânea.
De repente, algo que foi estrutural já não faz mais parte da
gente. E o que se faz com o espaço vazio que fica?
Não o preencha.
Comece assim.
E prepare-se para repensar sua maneira de existir.
Só uma nova forma de se relacionar, de agir, de existir, pode
ser a resposta correta para o fim de um sentimento. Se apenas preenchermos o
espaço vazio, continuamos na mesma e isso é muito confortável.
O melhor é aproveitar a oportunidade para mudar a forma de
estar no mundo. É bem mais difícil. Exige esforço. Algum tempo. Mais do que
geralmente estamos dispostos a empregar. Mas a eficácia é maior.
E nesse time to think,
podemos perceber que, talvez, quem sabe, o problema não tenha sido aquela
pessoa que foi embora, mas a que ficou. Eu. Nós. A nossa forma de estar no
mundo. Sai alguém, mas outras chegam e os problemas persistem.
E aí surge uma ironia.
Ao decidir afastar da sua vida quem te faz mal, talvez seja
relevante incluir-se nesta lista.